segunda-feira, 8 de junho de 2009

Dica de filme: Garapa


Fome. Drama da vida real. Drama vivido por mais de um milhão de brasileiros. "Garapa" é um filme pesado.
Começa com um alerta de que a fome não se resume exclusivamente a ausência de alimentos, mas sim das consequências de uma dieta deficiente em nutrientes que vão desde à má-formação física à mental. E mostra duas mães em uma caminhada longa e infrutífera, no sol escaldante, em busca de leite para alimentar seus muitos filhos.

Com direção de José Padilha (o mesmo de "Tropa de Elite"), o filme, totalmente em preto e branco, retrata o triste cotidiano de três famílias cearenses (duas no interior e uma na periferia de Fortaleza) que lutam para sobreviver à cada dia, numa briga cansativa e inacabável contra a fome em suas mais variadas facetas.

Câmeras dão ênfase ao que passam as crianças que, numa realidade nua e crua - literalmente falando - ao chorarem por comida, têm que se contentar em tomar água com açúcar (dái o nome "Garapa") e a viver em meio a porcos, cachorros, vermes, areia, dejetos humanos e moscas.

Adultos narram que, não raramente, passam por um dia inteiro sem se alimentar, que nunca comeram sequer três refeições em um mesmo dia... E choram ao revelar que nada podem fazer quando, na escassez até mesmo do açúcar para fazer a garapa, têm que negar a seus filhos uma "merenda".

Sem qualquer "roteiro lógico" na construção dos diálogos, as histórias de vida das famílias são narradas pelos próprios personagens que, por incrível que pareça - ou por falta de opção - ainda mantém a fé em Deus e o sorriso no rosto, sendo capazes de rir até mesmo da própria miséria.
As consequências da desordem social são mostradas através dos problemas que vão desde o alcoolismo à falta de emprego e condições mínimas de habitação e saúde públicas... Enfim, a miséria propriamente dita.

Ao ler algumas críticas, notei que rotulam o filme-documentário de "negativista", "exibicionista", que haveria uma "super exposição do problema sem apresente seu começo ou seu fim, sem que fosse mostrada qualquer solução"...

Na minha humilde opinião isso ocorre porque a fome daqueles personagens nada fictícios tem origem antes mesmo de seus nascimentos e persiste muito além da duração do filme.

Definitivamente, "Garapa" é um filme para "engolir no seco", em meio às lágrimas da plateia.
E mais, deveria ser de um filme de "visão obrigatória" para todos os políticos ladrões que desviam as verbas destinadas a melhorar as condições de vida dessas pessoas, mas que acabam em forma de seus carros novos e/ou viagens internacionais. Deveriam todos assistir... Ainda que servisse apenas para dar-lhes pesadelos.

Quanto a mim, restaram muitas lágrimas e a certeza da necessidade de ajudar ao próximo.

Vale ressaltar: De acordo com José Padilha (diretor do filme), toda a renda arrecadada com a exibição de "Garapa" será destinada às famílias que participaram do filme e aos programas que auxiliam o combate a fome no Nordeste.
Então vale a pena assistir, mesmo que para criticar negativamente depois.
Paz a todos.

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